23/11/2008

Fora de contexto

"Quando o luxo vem sem etiqueta...

O tipo desce na estação de metro de Washington vestindo jeans, t-shirt, encosta-se próximo à entrada, tira o violino da caixa e começa a tocar para a multidão que passa por ali, bem na hora rush matinal.

Durante os 45 minutos que tocou, foi praticamente ignorado pelos transeuntes, ninguém sabia, mas o músico era Joshua Bell, um dos maiores violinistas do mundo, executando peças musicais consagradas num instrumento raríssimo, um Stradivarius de 1713, estimado em mais de 3,5 milhões de dólares.

Alguns dias antes Bell tinha tocado no Symphony Hall de Boston, onde os melhores lugares custam 100 dólares.

A experiência, gravada em ví­deo, mostra homens e mulheres de andar rápido, copo de café na mão, telemóvel ao ouvido, crachá balançando no pescoço, indiferentes ao som do violino.
A excepção foram as crianças, que, inevitavelmente, e perante a oposição do pai ou da mãe, queriam parar para escutar Bell, algo que, diz o jornal, pode indicar que todos nascemos com poesia e esta é depois, lentamente, sufocada dentro de todos nós.

A iniciativa realizada pelo jornal The Washington Post era a de lançar um debate sobre valor, contexto e arte.


Conclusão: estamos acostumados a dar valor às coisas quando estão num contexto.

Bell era uma obra de arte sem moldura. Um artefacto de luxo sem etiqueta de glamour.

Somente uma mulher reconheceu a música..."
Texto do Dee

Hoje em dia conhecemos o preço de tudo
e o valor de nada

Oscar Wilde (1854-1900)


07/11/2008

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O primeiro movimento da manhã é a escolha do vento; nada é indiferente
ao corpo que acorda para mais uma descida pela vida; no ritmo da
cor, escolhe um tecido, e seu feitio presente. Fica cingida a ele, desnuda a
própria face.
A caneta interrompe a narrativa do diário em bruto. O quarto vibra em
tumultuoso silêncio. Deste modo se levanta e caminha para a visão que
lhe é preciosa, tanto quanto a palavra da sua língua, tanto quanto a companhia
dos companheiros ausentes e presentes.
Escreve no registo para as compras do dia
grão,
batatas,
água.

Llansol, Os Cantores de Leitura, p. 155











______no registo do dia escrevo c a n s a ç o

desligo a ficha da corrente








até Dezembro.







lilya corneli

O Sonho a Vontade e o Tempo

 Ou ...a arte de ser romântico

Aqui, precisamente aqui, ainda muito criança vi o mar pela primeira vez. Senti dentro de mim uma "coisa" tão imensa que não me cabia no peito. Fiquei a olha-lo, calada. O que é que isto tem a ver com o que vou dizer? Tudo. É que aqui também sonhei e ainda continuo a sonhar____ calada...!


Em jeito de resposta ao post da Ana Paula que me obriga sempre a pensar :). Tenho é um problema. Uma grande dificuldade em sintetizar uma ideia...escrevo sempre um lençol :(

A terra é redonda, o universo é redondo, o ovo é redondo, o átomo é redondo e a vida porque não há-de ser redonda também?
Esta ideia pode ser redutora, mas não é. Tudo se move e flui em círculos ou ciclos em espiral, como lhe queiram chamar.E a nova partida depois de um ponto de uma chegada nunca será igual, nem o caminho se faz da mesma maneira por duas vezes.

Tudo se move e flui, e em algum ponto do Tempo haverá sempre pontos de encontro com outros tempos. Tempo de uma vontade, de um sentimento ou de uma estética universais. E o que é que isto tem a ver com Schopenhauer e o pessimismo? Talvez tudo ou talvez nada: Tempo, ideias, vontades, pessimismos ou optimismo... Não há tempo ou épocas para a vontade de sermos felizes ou para emergirmos nas ideologias que acreditamos alcançarem esse fim, mesmo que esse fim seja gorado. Elas existiram existem e existirão sempre. É a vontade ou o desejo, esse pulsar do ser humano que faz com que um ponto de um tempo se encontre com um ponto de outros tempos
________encontraram-se. Agora muito para além do sonho americano. A eleição de Obama é uma boa notícia para todo o mundo.

Obama não foi eleito por ser negro. Obama se fosse branco teria tido muitos mais votos. Conseguiu derrubar as barreiras raciais do país, surpreender a geração de 90 (pós-segregação, uma altura em que as mulheres e os negros não tinham direito ao voto) e mobilizar o mundo, da Ásia à América, com o seu carisma, a sua história singular. Obama foi o primeiro democrata a receber o voto de mais de 50% da população americana. Obama conseguiu unir os americanos em festa na rua. Obama é uma consequência do 11 de Setembro e dos actos insanos que o precederam. Foi a vontade de um povo que apostou num homem que os fez acreditar na mudança. Num homem que que ousou sonhar. Essa é a vitória de Obama.

Não, não foi por ser negro, foi porque os americanos se reviram no desejo e na vontade de um homem. Homem do nosso tempo com "sonhos" de há 40 anos, que enquanto não forem realizados nunca deixarão de ser desejos presentes e em algum tempo dos tempos se encontrarão novamente.

Eu vim de muito longe onde existia e existe uma imensidão que é esperança. Talvez seja este o Tempo para todos. Obama foi eleito pela esperança política de mudança que transporta e que chegou agora aos afro-americanos com especial vigor.
O que Obama vai fazer com essa vontade colectiva, digo mesmo universal, já será outra coisa. Ou marca este Tempo e a humanidade sobe um degrau na espiral da evolução, ou não. Mas não esperemos que tudo aconteça já e agora. Vai desiludir? Claro que vai. Será sinal de que as expectativas já serão outras.

Se é pela vontade, pelo sonho, pelos ideais se é pela música ou pela fé (não gosto de dizer religião...) pelo pessimismo, optimismo ou meditação, o ser humano toma decisões individuais ou colectivas, universais ou não que mudam o rumo da História.
Espero que sim. Que Obama faça História.

_______________________________________e







Nós por cá, vivemos adormecidos ao som da estória do Ali Baba e os 40 ladrões!

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_____tenho a sensação que nós por cá somos sempre os mesmos a nascer