14/09/2008

O fim da História?


Para começar este Roads take #2 sinto-me na obrigação (isto é para rir) de esclarecer o que penso ...penso? sobre Portugal. E como penso mas não sei escrever, nada melhor que usurpar as palavras que seguidamente transcrevo como se fossem minhas, que é para isso que servem os escritores os poetas os jornalistas ou os opinion makers (tá na moda esta designação tão cool). 
Boa estadia por esta estrada de piso novo. Caso não saibam , não devem saber pois que nestas coisas sou muito subtil não ponho legendas nem setas... foi o tema ROADS dos Portishead  (gosto muitíssimo deles dela e tudo...) que deu nome ao nome do meu primeiro amor, digo meu primeiro ROADS.


Então aqui vai! (...é pequenino lê-se bem :))))

Portugal está sem destino. Deixou de ser um país colonial. Já não é um "bom aluno da "Europa". Pior ainda, apesar de muito esforço e muita propaganda, não se conseguiu "modernizar". O "atraso" continua e até aumentou. Não se vive hoje como se vivia durante Salazar, mas também não se vive numa mediocridade tranquila. Pelo contrário, o mundo muda e a insegurança cresce. O mundo muda e Portugal não se adapta: o desemprego cresce; as pensões diminuem, a educação é um artifício, o serviço de saúde vai pouco a pouco empobrecendo e a fisco oprime toda gente. No meio disto, o país não quer, nem está à espera de nenhuma reviravolta dramática. A "Europa", por que antigamente suspirava, obriga à imobilidade. É uma espécie de paragem definitiva, para além da qual nada existe - é pelo menos, por enquanto, um verdadeiro "fim da história". De resto, trinta e tal anos de regime criaram um cinismo político geral. À volta do PS e do PSD há meia dúzia de fanáticos, que ninguém leva a sério, e uma corte de carreiristas, que ninguém respeita. Tendo governado o país simultânea ou alternadamente, nem o PS nem o PSD inspiram hoje qualquer confiança. Colonizaram o Estado e a administração local por interesse próprio e cometeram (ou permitiram que se cometessem) erros sem desculpa. Desorganizaram a sociedade, ou mesmo impedirem que ela se fosse por sua vontade organizando, e levaram Portugal a uma espécie de paralisia de que não se vê saída. Apesar de um ou outro protesto melancólico e corporativo, o público já não se interessa pelo seu futuro, ou pelo seu presente, colectivo.

Nem Sócrates, nem Ferreira Leite percebem, no fundo, o que se passa. Sócrates persiste em repetir a sua velha ladainha, inteiramente desacreditada, com o entusiasmo de 2006. Ferreira Leite (a "tia Manuela", como agora popularmente lhe chamam) critica a evidência e recomenda os remédios do costume. Cada um à sua maneira, os dois falam uma nova "língua de pau", que os portugueses não ouvem ou que não registam. Talvez por isso, não falam muito e quando falam, excepto pelas querelas de partido e pelo vaguíssimo contraste entre o maior "liberalismo" de Ferreira Leite e o improvisado "neo-keynesianismo" de Sócrates, concordam no essencial. O PS e o PSD são o regime e não podem ou tencionam tocar no regime. A reforma de Portugal, se por absurdo vier, não virá dali.
(Vasco Pulido Valente no jornal Público)

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