23/02/2009

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Eu te crio paisagem, nada és sem mim.

Cá onde estou, aqui onde a natureza que é pó me conserva exilada, chamo-me. Resgato-me não do sonho mas do sono. rasgo que atravessa a névoa______ por tão breves instantes...______e vejo-te na suficiência certa.

Sou eu que te vejo, e que me vejo a ver-te, e que, ao ver-me, te faço.


____________________e

ausento-me

deixo beijos
ternos.

17/02/2009

casamento


Ontem acompanhei o debate na RTP1 sobre o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo.
O que mais me incomodou não foi haver gente contra o casamento civil. Haver vários pontos de vista sobre um assunto é normal e saudável para a democracia. Mas a ignorância e a falta de preparação na fundamentação dos argumentos apresentados pelos que são contra o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, incomodou-me muito, fiquei mesmo de boca aberta.
Mas figura triste fizeram...!
Mais triste ainda, é que esse também é o retrato da oposição nos debates da Assembleia da República.

A igreja já era de esperar. Toda a gente conhece a sua posição.


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Súplica
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas às urgentes perguntas que te fiz.
Deixa-me ser feliz assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto o nosso amor durou.
Mas o tempo passou, há calmaria...
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.

Miguel Torga


Nights in White Satin - The Moody Blues

16/02/2009

"Entrada por Saída"

é o último trabalho de Jorge Molder ( que eu tive o prazer de conhecer e trabalhar nos anos 1978 a 1982 sensivelmente, altura em que se dedicou exclusivamente à fotografia como modo de expressão).
"Nascido em 1947, formado em Filosofia, Jorge Molder é um artista que fotografa e assim exprime a duplicidade, servindo-se não só da fotografia, como do próprio corpo – o resultado é, podemos dizê-lo, uma ficção e não um auto-retrato, uma possível referência a um qualquer aspecto (o dia-a-dia, o cinema, a literatura…) que, mesmo que surja sequenciado, não busca necessariamente a constituição em forma narrativa. A duplicidade surge também na construção/ recepção da fotografia: por um lado, a simplicidade no modo como o conceito transmitido é construído: um artista que se fotografa a si mesmo; por outro, a complexidade do sentido que as imagens pretendem veicular."









Vale a pena ver e ler - Link Jorge Molder

Sabe ao menos do que lhe estive a falar? Da vida? *
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Roland Barthes já o havia dito: “A Fotografia é subversiva não quando assusta, perturba ou até estigmatiza, mas quando é pensativa”
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Primeiro, o corpo aparece assim, tornado imagem, como para ser mostrado ou mostrar qualquer coisa. O sujeito representado apresenta um ar grave, um olhar intenso, uma presença que nunca chegamos a saber se é também uma ausência. Mas a luz, como o corpo, no seu ponto de fuga, indicam que estão ali para serem olhados. Sombras inatingíveis das quais restam as ilusões platónicas, corpos em movimento que desafiam o olhar insistente da máquina fotográfica, sabendo que ela quer e vai fixar para sempre uma aparência.
...
Por isso, o corpo entra como sai, alternadamente, desloca-se, cai, desafia o tempo na evanescência das suas formas. Ao mesmo tempo que é fixado pela fotografia adquire leveza, ganha velocidade, porque a forma pouco interessa. O tempo é, afinal, esse “agente secreto” (que deu também nome a uma das suas séries, em 1991) que actua sobre as coisas. Quem se move primeiro? O corpo ou o tempo? Este conjunto de imagens a que Jorge Molder chamou “Entrada por Saída” expõe, em toda a sua dimensão, um jogo com o tempo e uma capacidade de olhar que deixa uma impressão nos olhos do espectador. Uma mistura de diferentes séries e trabalhos que têm em comum uma característica: são as pistas de que precisamos para também nós começarmos a jogar um jogo que não tem princípio nem fim, onde tudo se pode baralhar e tirar de ordem, onde a entrada pode, afinal, ser a saída, e vice-versa.

Revista a.23

12/02/2009

Yes, weekend!

DO SENTIDO DA VIDA CONTEMPORÂNEA

"Road to Nowhere", Talking Heads.






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...para preenchimento de um impresso a fim de formalizar algo que já não me lembro agora, perguntaram à Carolina Salgado qual era a sua profissão, respondeu: Sou escritora!!!!!!!


Bom fim de semana.




Um dia depois...
Confesso que sou muito distraída, mas assim tanto nem eu sabia. Ontem pensei que era sexta feira :( ... :)
Já sabia que vivo à margem da sociedade,...afinal também sou marginal do tempo.
Não "tenho" tempo para nada e tenho Tempo para tudo.

10/02/2009

Nem só de pão vive o homem,

por isso, deixo-vos a receita da "Bola de Carne" ou "Folar" que fiz no Natal. Esta massa é muitíssimo boa e fofinha, fácil de fazer e em pouco tempo. Come-se a qualquer hora e em qualquer altura, e com café é dos deuses.
Não se assustem que a da fotografia está em triplicado. É que éramos muitos.



2 dl de leite,

2 dl de azeite,

8 dl de farinha com fermento (Branca de Neve),

6 ovos,

1 gema de ovo.

carnes de fumeiro: chouriço, bacon, presunto, salpicão(todo o tipo de carnes fumadas), ou restos de carnes que tenha no frigorífico, sem molhos.

Misturam-se o leite, azeite, farinha e os ovos até ficar uma massa sem grumos. Num tabuleiro ou forma de bolos untada e polvilhada, deita-se uma camada de massa. Colocam-se as carnes cortadas em fatias ou rodelas por cima da massa, bastante carne porque a massa cresce e o que parece muito fica a saber a pouco. Depois coloca-se o resto da massa por cima das carnes. Pincela-se com uma gema de ovo para ficar com aquela cor dourada, e vai ao forno.
Com um palito vêm se está cozida (toda a gente sabe a técnica do palito, espeta-se até ao fundo se vier seco, está cozida).

Bom apetite.

06/02/2009

...dentro do texto





Tudo flui. A alma assiste, imóvel, à passagem das alegrias, das tristezas e das mortes, de que se compõe a vida. Marguerite Youcenar


Enquanto isso, atardo-me no atalho terrestre em subtracção de aparências e somas de essências. antigas.
Árdua tarefa matemática do menos menos menos para ser mais e mais e mais. menos ego, mais fonte de água pura. lutas extremadas de águas e incêndios. cruz e redenção. Ânsia da alma__ nua até ao branco. indizível.
Resgate da promessa de um sol oculto que faz desabrochar as almas e as estrelas porque importa pouco aquilo em que se crê, o que interessa é a maneira como se crê._____ a maior felicidade da terra leva apenas à fronteira do céu e a verdade não é um ponto fixo, mas uma linha ascendente. A verdade de ontem anula-se perante a de hoje que renuncia à verdade de amanhã. Cada uma delas é apenas uma estrada que leva mais acima.




No corpo toda a terra.

Vou lendo no céu a cor das nuvens e a direcção do vento na terra apascento os olhos. Árvore que se ergue ao céu raiz que abraça a terra ramagens que dançam para as estrelas e o perfume das flores falam-me de Amor ___asas do universo na beleza contida da oração. sol da expressão nas cores. pedras que transbordam vidas. tantas.
Afago os meus cactos queimados pela geada, condoo-me das pobres couves acabadas de plantar e cada vez mais comidas pelos coelhos bravos. faço-me companhia em coisas simples. com desertos mas sem serpentes.
Trago o coração apaziguado em verdade e sinceridade e isso basta-me.
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Andava eu à procura de Teixeira de Pascoaes, "o teólogo que tem na alma toda a luz e no corpo toda a terra", meu conterrâneo e um dos grandes escritores e poetas Portugueses do século XX, encontrei na Biblioteca Nacional Digital raridades. Uma delas é a digitalização da Revista A águia: revista quinzenal ilustrada de literatura e crítica, Porto, 1910-1932.
Um dos Directores da revista foi Teixeira de Pascoaes.

Partilho com vocês este texto maravilhoso de Jaime Cortesão editado no nº1-1ª Série da Revista A Águia, de 1 de Dezembro de 1910. É de uma beleza que ilumina quem o lê. No fim da Página ainda há um brinde. Um lindíssimo "escerto" do poema Romanceiro das Águas de Affonso Duarte.
O Poeta

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04/02/2009

As Guerras mentem!

Vi este programa (ver vídeo) e fiquei verdadeiramente impressionada.

Electrónica de sangue

Coltan
"Quase todos os equipamentos electrónicos que conhecemos podem estar manchados de sangue. Um dos metais indispensáveis à era digital é extraído das minas congolesas, em condições inumanas, por homens, mulheres e crianças, forçadas a um regime de semi-escravidão. (...)"




Coltan.O Ouro Azul do Secúlo XXI

As guerras dizem que ocorrem por nobres razões: a segurança internacional, a dignidade nacional, a democracia, a liberdade, a ordem, o mandato da civilização ou a vontade de Deus.
Nenhuma tem a honestidade de confessar: "Eu mato para roubar".

Não menos de três milhões de civis morreram no Congo ao longo da guerra de quatro anos que estava em suspenso desde fins de 2002.
Morreram pelo coltan, mas nem eles sabiam disso. O coltan é um mineral raro, e o seu nome estranho designa a mistura de dois minerais raros chamados columbita e tantalita. Pouco ou nada valia o coltan, até que se descobriu que era imprescindível para a fabricação de telefones celulares, naves espaciais, computadores e mísseis; passou então a ser mais caro que o ouro.
Quase todas as reservas conhecidas de coltan estão nas areias do Congo. Há mais de quarenta anos, Patrício Lumumba foi sacrificado num altar de ouro e diamantes. Seu país torna a matá-lo a cada dia. O Congo, país paupérrimo, é riquíssimo em minerais, e esse presente da natureza continua a converter-se em maldição da história.
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Os africanos chamam o petróleo de "merda do diabo".
Em 1978 descobriu-se petróleo no sul do Sudão. Sete anos depois, sabe-se que as reservas chegam a mais do dobro, e a maior quantidade jaz no oeste do país, na região de Darfur.
Ali ocorreu recentemente, e continua a ocorrer, outra matança. Muitos camponeses negros, dois milhões segundo algumas estimativas, fugiram ou sucumbiram, a bala, a facão ou a fome, com a passagem das milícias árabes que o governo apoia com tanques e helicópteros.
Esta guerra disfarça-se de conflito étnico e religioso entre os pastores árabes, islâmicos, e os labregos negros, cristãos e animistas. Mas acontece que as aldeias incendiadas e os cultivos arrasados estavam onde começam a estar agora as torres petrolíferas que perfuram a terra.
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01/02/2009

Qadós

Difícil de explicar, ia dizendo aos borbotões que essas coisas senhora são para fazer uma limpeza na minha alma devo começar por aí não sei se a senhora entende mas o branco é demais importante para começar as orações e acendendo as velas fica visível para a Excelência que sou eu mesmo que me acendo, matéria de amor etc. etc. A maioria revirava os olhos, torcia a boca, umas coçavam os cotovelos, a cintura, diziam: homem, se queres comida eu entendo mas não tenho, o resto é confusão, despacha-te. Às vezes davam-me panos pretos, ou alaranjados ou com listas ou vermelho com florzinhas, nunca o branco, Excelência, e como último recurso para conseguir os círios eu entrava numa loja aos solavancos, o olho girassol e gritava: duas velas por favor, a mãe agoniza, em nome do vosso nosso Deus duas velas para as duas mãos de mamãe. E saía como o raio, como o cão danado, como Tu mesmo que te evolas quando Te procuro, ai Sacrossanto por que me enganaste repetindo: hic est filius meus dilectos, in quo mihi bene complacui? Nudez e pobreza, humildade e mortificação, muito bem, Grande Obscuro, e alegria, é o que dizem os textos, humilde e mortificado tenho sido, mas alegre, mas alegre como posso? Se continuas a dar voltas à minha frente, estou quase chegando e já não estás e de repente Te ouço, bramindo: mata o rei, Qadós, o inteiro de carne e de pergunta, pára de andar atrás de mim como um filho imbecil. Como queres que eu não pergunte se tudo se faz pergunta? Como queres o meu ser humilde e mortificado se antes, muito antes do meu reconhecimento em humildade e mortificação, Tu mesmo e os outros me obrigam a ser humilde e mortificado? Como queres que eu me proponha ser alguma coisa se a Tua voracidade Tua garganta de fogo já engoliu o melhor de mim e cuspiu as escórias, um amontoado de vazios, um nada vidrilhado, um broche de rameira diante de Ti, dentro de mim? E as gentes, Máscara do Nojo, como pensas que é possível viver entre as gentes e Te esquecer? O som sempre rugido da garganta, as mãos sempre fechadas, se pedes com brandura no meio da noite que te indiquem o caminho roubam-te tudo, te assaltam, e se não pedes te perseguem, se ficas parado te empurram mais para frente, pensas que vais a caminho da água, que todos vão, que mais adiante refrescarás pelo menos os pés e ali não há nada, apenas se comprimem um instante, bocejam, grunhem, olham ao redor, depois saem em disparada. Andei no meio desses loucos, fiz um manto dos retalhos que me deram, alguns livros em baixo do braço, e se via alguém mais louco do que os outros, mais aflito, abria um dos livros ao acaso, depois deixava o vento virar as folhas e aguardava. O vento parou, eis o recado para o outro: sê fiel a ti mesmo e um dia serás livre. Prendem-me. Uma série de perguntas: qual é teu nome? Qadós. Qa o quê? Qadós. Qadós de quê? Isso já é bem difícil. Digo: sempre fui só Qadós. Profissão. Não tenho não senhor, só procuro e penso. Procura e pensa o quê? Procuro uma maneira sábia de me pensar. Fora com ele, é louco, não é da nossa alçada, que se afaste da cidade, que não importune os cidadãos. Sou quase sempre esse, matéria de vileza e confusão para os outros, para os Teus olhos um nada que te persegue, um nada que se agarra às tuas babas, e como é difícil te perseguir, nem o rasto, nem a estria brilhante (aquela que os caracóis deixam depois da chuva) eu vejo, pois é pois é, seria fácil para o teu inteiro gosma e fereza, o teu inteiro amoldável, me dar umas pequeninas alegrias e te mostrares um dia Grande Caracol baboso aguado brilhante, te mostrares um dia intimidade, vê Cão de Pedra, agora não sei, fui íntimo para um uma ou dois, nem me lembro, e a princípio como me trataram bem, cuidado na fala, langor no olhar, a minha palavra era véu dourado que pouco a pouco pousava, translúcido, luminosidade delicada, eu Qadós falava e o espaço era pérola, leite fresco, pistilo, um ou três relinchos para aquecer ainda mais tanta mornura, sorriam, lábio frouxo encantado, gula de me possuir inteiro, se era mulher ela me dizia isso mesmo gula de te possuir inteiro, Qadós, se era homem também, aí eu me escondia, dias e dias sobre Plotino, outros dias apenas flutuava sobre o verde dos parques, de longe me seguiam, eu de névoa transfixado, melindre dissolvência, Qadós O Inteiro Desejado.

Hilda Hilst


Oleeeeee!!

Rafael Nadal O IMPLACÁVEL!





Fotografias EUROSPORT